Nos últimos anos, a sustentabilidade e as práticas ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança) se tornaram uma prioridade nas agendas corporativas, não apenas por razões éticas, mas também como um fator estratégico para a longevidade e lucratividade dos negócios.
Entre as diversas iniciativas sustentáveis, os projetos de conservação da água têm se destacado como uma prática que alinha responsabilidade ambiental com vantagens econômicas. Este artigo explora como tais projetos podem beneficiar as empresas, não apenas mitigando riscos, mas também impulsionando a inovação, reduzindo custos e fortalecendo a reputação corporativa.
A água como recurso crítico e os riscos associados
A água é um recurso essencial para a vida e para muitas atividades industriais. No entanto, a crescente escassez de água, seja pela sua quantidade ou qualidade, exacerbada pelas mudanças climáticas, pelo aumento da demanda e pela contaminação, coloca um risco significativo para as empresas. De acordo com a World Resources Institute (WRI), cerca de um quarto da população mundial enfrenta alto estresse hídrico, e a previsão é de que esse número aumente até 2030 (WRI, 2023).
Empresas que dependem intensivamente de água para suas operações, como as dos setores de alimentos e bebidas, manufatura e energia, estão particularmente vulneráveis a essas mudanças. A escassez de água pode levar ao aumento dos custos operacionais, interrupção das cadeias de suprimentos e até à perda de licença para operar em certas regiões, o que pode impactar diretamente a rentabilidade.
Redução de custos operacionais
Investir em projetos de conservação da água pode resultar em significativa redução de custos operacionais. Isso ocorre por meio da diminuição do consumo de água, da implementação de tecnologias de reuso e tratamento, e da melhoria da eficiência dos processos produtivos. Por exemplo, uma fábrica da Coca-Cola na Índia conseguiu reduzir em 50% o uso de água em suas operações através de iniciativas como a captação de água da chuva e o tratamento de águas residuais (Coca-Cola, 2019).
A Natura é uma marca que se destaca quando se fala em sustentabilidade, é pioneira em marketing verde no Brasil. Além de usar embalagens recicláveis e realizar projetos de conservação da Amazônia, a marca já assumiu a responsabilidade de reduzir suas emissões de carbono (NEIL PATEL; NATURA). Uma das principais referências da empresa nessa área é o Programa Logística Reversa, que consiste em retirar de circulação embalagens e materiais já utilizados para encaminhá-los à reciclagem, adicionalmente, a Natura também oferece a opção de refil para seus produtos, o que contribui para evitar a quantidade de lixo no meio ambiente.
Além de reduzir os custos diretos, essas práticas podem diminuir despesas associadas ao tratamento de efluentes e ao pagamento de tarifas de água. Empresas que adotam essas medidas também se posicionam melhor frente a possíveis regulamentações mais rígidas no futuro, evitando penalidades e custos adicionais.
Inovação e competitividade
A sustentabilidade, especialmente no contexto da conservação da água, é um motor de inovação. Ao buscar maneiras de utilizar a água de forma mais eficiente, as empresas são incentivadas a desenvolver novos produtos, processos e tecnologias. Isso não só melhora a eficiência interna, mas também pode abrir novas oportunidades de mercado.
Por exemplo, a Unilever implementou uma estratégia de sustentabilidade que inclui a redução do uso de água em seus produtos e operações. Como resultado, a empresa desenvolveu produtos inovadores que utilizam menos água, atendendo à crescente demanda dos consumidores por soluções sustentáveis e aumentando sua participação de mercado (Unilever, 2021).
Com a maior competitividade do mercado as empresas tendem a investir em processos com algum diferencial, ações socioambientais se bem estruturadas e desenvolvidas podem dar à empresa uma posição de destaque, e deste modo permite colher bons frutos. André Boudon já mencionava na Revista Negócios que promover o bem-estar social e ambiental será um fator decisivo para o sucesso nos negócios.
Rosabeth Moss Kanter publicou uma matéria na Harvard Business Review onde fala que uma grande organização trabalha pelo lucro (óbvio), mas no caminho para obtê-lo investe no fortalecimento da sociedade e também destaco aqui a conservação do meio ambiente. Rosabeth também diz que grandes empresas buscam algo maior do que transações para garantir seu propósito e sentido.
São numerosos os artigos e notícias que falam sobre o investimento e apoio a projetos socioambientais e sua relação direta com ganho no mercado e credibilidade de uma empresa, sendo que isto já vem sendo discutido e comprovado.
Consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas ambientais das empresas, e as que demonstram compromisso com a sustentabilidade tendem a se destacar positivamente.
A reputação sustentável pode levar à fidelização de clientes, atrair novos mercados e até melhorar o valor das ações da empresa. Um estudo da Harvard Business School mostrou que empresas com alto desempenho em sustentabilidade apresentam uma performance financeira superior a longo prazo em comparação com aquelas que têm uma abordagem menos proativa (LORENZO & REEVES, 2018).
Projetos de conservação da água representam uma oportunidade estratégica para as empresas. Além de mitigar riscos associados à escassez de recursos hídricos, essas iniciativas oferecem benefícios econômicos tangíveis, impulsionam a inovação e fortalecem a reputação corporativa. Empresas que adotam práticas de gestão sustentável da água estão não apenas protegendo o meio ambiente, mas também garantindo sua viabilidade econômica a longo prazo.